28 outubro, 2010

Oficina de Formação



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Oficina de Formação | 30.10 às 15h30 + louvorzão com Instituto Canzion às 19h30 | ICF-Vila Mariana

O Evangelho numa canção dos Beatles



Li uma resenha na Veja dessa semana sobre o livro do Padre Marcelo, Ágape. Meteram o pau no texto do sacerdote-cantor, meu par. Longe da minha intenção, ocupar o tempo precioso dos meus treze leitores com uma discussão sobre as virtudes literárias ou teológicas do tal livro. Meu interesse é refletir sobre o comentário final da matéria: "fica a impressão de que o Evangelho inteiro cabe numa canção dos Beatles ". Fiquei com raiva do cara. Achei leviana a observação. Depois, aquiesci: cabe mesmo. Não que o mérito seja de Lennon e McCartney. A canção é até boazinha, não a melhor da sua lavra. Na verdade " All you need is love ", com aquela introdução cafona de banda marcial ( até justificada pelo clima pacifista e anti-vietnã: consta que o single for a o resultado de uma encomenda da BBC para a primeira transmissão ao vivo , via satélite, que se tem notícia. Data de 1967 ) nunca me conquistou. O mérito da frase "o Evangelho inteiro cabe numa canção dos Beatles " é do Evangelho, é de Jesus de Nazaré. John e Paul cavaram no inconsciente coletivo da sua herança cristã desprezada e esquecida ( ou seria Graça Comum, pura e simples? ) a verdade mais bela do Cristianismo: a resposta é simples – amor.

A mensagem de Jesus, o resumo da sua proposta, o coração da sua utopia comunitária-social-política, a revoleção de Jesus, como diria Brian MacLaren, é o amor. O amor é o tronco do qual todos os ramos da Vida Boa e Abundante do Reino brota, floresce, frutifica. Todo mundo sabe – ou deveria – que o farisaísmo inflacionou a Torá, a Lei descrita no Pentateuco. Os mandamentos de Deus viraram centenas e centenas. Haja jurisprudência e moralismo religioso! Jesus, com sua capacidade de síntese incomum, mesmo se comparado ao gênio de Sócrates, por exemplo, responde , certo dia, a um jovem em crise espiritual : tudo o que você precisa ( ter ) é amor. A Deus, acima e antes de tudo. Ao próximo como a você mesmo. O amor é tudo. Ponto.

Hoje cedo, café pingado e pão na chapa numa mão, a Folha na outra li com interesse duas colunistas. A primeira, psicanalista, refletia sobre uma crise contemporânea. Com singular felicidade e lucidez de raciocínio Anna Veronica Mautner escreveu: " A oralidade, tenho a impressão, está em crise. Todos fazem de conta que têm o que dizer. O valor das pessoas associa-se mais ao quanto têm a dizer do que ao que têm a dizer (… ) não estou criticando esse vendaval de palavras desnecessárias(…) só quero chamar atenção para esse fenômeno. " Ou seja, a natureza dos talk shows, o recheio das séries, novelas e o caldo grosso do entretenimento da TV, sem falar no sucesso do twitter, vai tudo por aí: " Blá-blá-blá. Ouçam o que eu tenho a dizer ". O que dizemos sobre o amor? Quem dizemos amar? No mesmo jornal a psicóloga, Rosely Sayão denuncia o desaparecimento da infância: "as crianças na atualidade, quando querem brincar não podem e , quando podem, não querem ou nem sabem". Seu argumento algo assustador para um pai ocupado como eu afirma que "a aquisição exagerada de brinquedos colaborou para que a brincadeira ficasse em segundo plano." Pior que é. Tudo o que uma criança precisar é de amor. De mor que se traduza em brincadeira. Não de brinquedos e mais brinquedos, sua iniciação na doença do consumismo. Amar uma criança é permitir que ela seja criança.

Na graduação tive um professor de linguística que marcou minha formação intelectual. Pelo bem e pelo mal. Bem: era brihante, o senhor Alfredo Felipelli. Italiano, cultíssimo. Entendia mais de Saussure e do idioma latino do que os Beatles de hits parades e fama. Seduzia com a bela logicidade cartesiana das suas palestras, com o vigor do seu raciocínio extremamente bem fundamentado et cetera. Mal: fingia que não nos enxergava quando cruzávamos com ele nos corredores da faculdade de letras. Ignóbil é a erudição que nos imagina superiores aos vis mortais que não sabem citar Cícero de cor! Talvez a medida do nosso tão propalado, cantado, propagandeado, alardeado, rimado, pregado, amplificado, anabolizado, maximizado, e no entanto, esvaziado, diminuído, desvalorizado, desmerecido, ridicuralizado, problematizado, empobrecido e desqualificado amor tenha a ver com o modo como lidamos com as pessoas simples, a tal gente humilde, no dia-a-dia ordinário, no chão das coisas e não no mundo das idéias. " Nunca se está diante de alguém comum", dizia C.S.Lewis. Ser cristão é viver segundo o Espírito. O que faz o Espírito Santo em nós, no fundo e na prática da nossa vida cotidiana? A essa pergunta respondeu Thomas Merton, em "No man is an Island" : " Ele nos atrai para o mistério da encarnação e redenção pelo Verbo que se fez carne. Ele não apenas faz-nos compreender algo do amor de Deus manifestado em Cristo como também faz-nos viver mediante a experiência do amor em nosso coração". Resumidamente, é isso. Isso tudo. De fato, o Evangelho cabe numa canção: "tudo o que você precisa é amor". Eu também.


por Gerson Borges


retirado de Cristianismo Criativo

Le Café - Odelaf et Monsieur D



Cansado e sobrecarregado? Que tal um cafézinho..?

Indicação do queridão Pr. Joubert!

IV Fórum Cristianismo Criativo


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Cultura e Cristianismo de mãos dadas!

Como discutir política?


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Obs: qualquer semelhança é mera coincidência!??

"Tropa de Elite 2": mudou a vista, mudou o ponto




Perplexidade que filme pode gerar é convite de não rendição às circunstâncias e de reencontro com nossa humanidade

No primeiro "Tropa de Elite", era o mano a mano, aquilo que a psicodinâmica chama de pedagogia de violência, a tese da eliminação do crime pela eliminação do criminoso. Em "Tropa de Elite 2", entram a política, a sociedade e os direitos humanos.

Os personagens são mais complexos e interessantes. O professor militante e o agora tenente-coronel Nascimento se estranham, mas se encontram, mesmo sem o querer, na realidade dura que os envolve, em que um é indispensável ao outro.

Quando o coronel "cai pra cima" e começa a conhecer mais a fundo a sordidez entranhada no "sistema", já fica claro que, neste filme, a polícia é coadjuvante. Agora, o assunto é política, em que se choca o ovo da serpente da violência policial e das relações espúrias entre poder de Estado e delinquência.

A escória da polícia se transforma em força auxiliar de ambições políticas e, com isso, ganha licença irrestrita para o crime. Nascimento e seus seguidores são manipulados no território que não tem mais fronteiras legais porque a lei que vale já é a da própria bandidagem.

Como enfrentar? O mano a mano revela-se inútil porque a mão que joga combustível na violência não está nas ruas, no tiroteio do dia a dia. O sistema corrupto se alimenta do objetivo de permanecer no poder a qualquer custo e essa é uma das principais chaves para a degradação da política e do próprio tecido social.

É muito bem construída a trajetória da mudança de visão de Nascimento. Só consegue fazê-lo por meio do encontro com sua própria humanidade, no sofrimento pessoal de perdas e na relação conflituosa com o filho, ao lutar para compreendê-lo e ser compreendido por ele.

Daí vem a consciência de sua impotência, de ser pequena presa numa teia incomparavelmente maior do que suas estratégias e possibilidades de reagir. A saída é radicalizar no mundo da política, é tentar atingir o cerne da armadilha.

Depressão Política

O final me deu certa depressão política. É forte, mas passa uma sensação de generalização que não é boa porque reafirma o senso comum de que se sabe qual é o exato endereço do Mal. Destoa da capacidade de lidar com a complexidade do tema, presente em todo o filme. E se perde um pouco a importantíssima cortina levantada em relação ao voto, à responsabilidade de cada cidadão.

Recebi há alguns dias um texto de Rachel de Queiroz (1910-2003), escrito em 1947 para "O Cruzeiro". Ela alertava os eleitores do valor daquilo que se entrega a maus políticos: "Vão lhes entregar um poder enorme e temeroso, vão fazê-los reis; vão lhes dar soldados para eles comandarem... Entregamos a esses homens tanques, metralhadoras, canhões, granadas, aviões, submarinos, navios de guerra... E tudo isso pode se virar contra nós e nos destruir, como o monstro Frankenstein se virou contra o seu amo e criador."

A cartada radical de Nascimento é pegar o inimigo não pela força das armas, mas pela coragem de expor o sistema, trincando-o. O trânsito do primeiro para o segundo "Tropa de Elite" é o coração da discussão proposta por esse belo filme, de interpretações magníficas.

Nesse sentido, a impotência e a perplexidade que podem baixar quando a luz se acende no cinema são um convite de não rendição às circunstâncias. No limite, como aconteceu com Nascimento, todos vamos querer nos reencontrar com nossa humanidade, exigir que ela seja reconhecida.

Há sempre um ponto de retorno dado pelos indivíduos ou pela trama social, pela cultura, pela espiritualidade ou pelas instituições, entre elas a política. Que é das mais importantes, como se vê quando nos deparamos com as consequências de sua deterioração.

Marina Silva, 52, é senadora da República (PV-AC), foi candidata à Presidência da República pelo Partido Verde nesta eleição e ex-ministra do Meio Ambiente do governo Lula (2003-2008).


retirado de minhamarina.org.br