06 maio, 2010

65 Red Roses



Garota canadense narra em blog "o fim da vida"

Na foto, uma garota frágil com o cabelo amassado, uma menina que já foi rainha de concurso de beleza, mostra um sorriso fraco para a câmera. “Olá mundo”, diz Eva Markvoort no vídeo. “Para o meu blog, aos meus amigos, a todos. Tenho uma notícia. É meio difícil de ouvir, mas eu posso contar com um sorriso”. Em uma cama de hospital, Eva aparecia sentada, cercada por sua família. “Minha vida está acabando”.

Eva Markvoort tinha fibrose cística, uma doença incurável que provoca o acúmulo de muco nos pulmões. Ela narrou em um blog (“65_RedRoses”) a vida de uma pessoa com uma doença terminal, entre fotos engraçadas com os amigos e com a família.

Eva chegou a receber um transplante em 2007 – há um documentário, também chamado “65 Red Roses”, exibido internacionalmente, que fala de sua história, da doença e do transplante – mas menos de dois anos depois seu corpo começou a rejeitar o órgão. Após o documentário – que também foi premiado – ser veiculado, o número de doadores de órgãos aumentou consideravelmente, de acordo com artigo no jornal Vancouver Sun.

E até o fim ela lutou para informar as pessoas sobre a doença e a importância da doação de órgãos. Recebeu inclusive prêmios, entre eles o Summerhayes Award 2010, da Fundação Canadense para a Fibrose Cística no Canadá.

Morte e a era da internet
Médicos especialistas que trabalham com doentes terminais dizem que compartilhar os últimos pensamentos é uma forma de reconhecer que o fim está próximo, mas também desmistifica a morte para os outros. E na era da internet, muitas pessoas aproveitam as redes sociais para refletir online sobre suas vidas.

“O que estamos vendo nesta última década é uma mudança de cultura, que fala abertamente sobre a morte”, disse o Dr. Chris Feudtner, diretor de pesquisa do Serviço de Cuidados Paliativos do Hospital Infantil da Filadélfia, na Pensilvânia, em reportagem no site da CNN.

“A linha de pensamento é ‘Eu ainda estou vivo. Não quero ficar fechado. Quero poder dividir o que estou aprendendo nesta jornada’”, afirmou.

Outro médico, David Cassarett, diz que “muitos destes blogs contam o dia a dia das pessoas e são bem honestos, sem mascarar as dificuldades e medos”. Trazem desespero, “trazem o que precisamos ouvir”, ele diz, mas também falam de esperança.

Eva Markvoort começou seu blog em 2006. Sozinha no quarto – os portadores de fibrose cística ficavam isolados por causa da infecção – ela começou a conversar online com outros pacientes. Quando estava muito frágil, ela ditava para que algum amigo ou familiar escrevesse. “A atividade online, o retorno que ela recebia, tudo tornou-se um foco muito importante para ela”, disse sua mãe Janet Brine.

O blog se chama “65_RedRoses” porque, quando criança, Eva não conseguia pronunciar o nome certo da doença (em inglês “cystic fibrosis”). Então fez um trocadilho com 65 (“sixty five”, em inglês) e adicionou “red roses” (vermelho era sua cor predileta, e rosa sua flor preferida).

Nos últimos dois anos, o blog conectou-a a mais de um milhão de internautas do mundo todo. O vídeo em que ela aparecia cercada pela família, dizendo estar perto de morrer (gravado cerca de um mês antes da morte), atraiu imediatamente mais de 150 mil page views, e dezenas de milhares nos dias seguintes.

Celebrando a vida
Mas para além da dor, do desconforto e da doença, o tema recorrente do blog era o amor. No vídeo em que fala sobre a morte iminente, ela diz: “Acho que sou muito afortunada, porque eu amei mais do que vocês poderiam pensar, mais do que vocês poderiam imaginar. Então, eu estou comemorando isso: celebrando minha vida”.

A menina cresceu em um subúrbio de Vancouver, no Canadá. Gostava de moda e chegou a frequentar a Universidade de Victoria. Usava os cabelos vermelhos e queria ser atriz, mas a doença impediu a continuação da carreira. “Eva encontrou outras maneiras de utilizar essa veia artística, como escrever o blog, por exemplo”, afirmou a mãe.

A triste realidade das últimas seis semanas era exposta em seu blog, em posts que falavam de “episódios de horas ofegantes, ondas de náuseas e falta de sono”. “Eu estou me afogando nas medicações”, ditou ela para que a irmã escrevesse no dia 25 de março último. “Não consigo respirar”.

“Este é o fim da minha vida, mas não é o fim do meu amor”, disse. Eva Dien Brine Markvoort morreu na manhã de 27 de março, aos 25 anos.

No blog 65redroses encontram-se vídeos, os posts de Eva, fotos e relatos da família e amigos sobre o trabalho e a vida da garota. Nesta sexta-feira, dia 30, família e amigos farão uma “Celebração do Amor”, um memorial para Eva, em Vancouver, que será transmitido também em seu blog.


retirado de Terra

2 comentários:

Anna Lucia disse...

Achei o Blog de vocês por acaso.
Estava procurando o documentário da Eva.
Assisti no Multishow esse documentario e é fabuloso e mexeu muito comigo.

A Eva faleceu em março desse ano.
Uma pena, lutou tanto!

abs!

JayCBe disse...

realmente o doc é muito bom!
um exemplo para os jovens da geração-y!
valeu pelo comentário!