Comecei a ler A CABANA com o ceticismo que reservo a qualquer obra de ficção cristã, gênero que costuma ser propagandista, servindo mais aos objetivos ideológicos dos seus autores do que aos propósitos da arte. O que descobri é que, neste livro lançado no Brasil pela Editora Sextante, William P. Young de fato aventa uma agenda – uma proposta didática.
A realidade é que o autor não tem nem talento nem disposição para competir com os melhores romancistas. No entanto, a verdade que ele deseja revelar é mais importante que qualquer escolha de forma literária. Young parece perceber as limitações da sua ficção, e mesmo assim arrisca tudo em favor do insight que deseja compatilhar com seus leitores. Sua autopercepção torna palatável o que normalmente seria o defeito mais irritante da ficção cristã.
O resultado? Milhões de leitores estão abraçando a proposta para embarcar na narrativa de A cabana – e é bom saber que entre eles estão teólogos e eruditos. Até Eugene Peterson endossou a obra; no seu entender, o livro poderá fazer por nossa geração o mesmo que O peregrino, de Bunyan, fez para a sua. A comparação entre as duas obras é perfeita, pois O peregrino também é pouco mais que uma analogia a serviço de uma mensagem, com sérias limitações literárias. No entanto, é de se acreditar que a exposição inovadora das verdades que impulsionam essas obras compensam as suas falhas.
A cabana é sobre Mack, um homem cuja pequena filha é assassinada. Sua consequente decepção com Deus o leva à beira da loucura, e um dia ele recebe um bilhete enigmático que o convida a voltar à cabana onde ocorreu o crime. O bilhete é assinado por “Papai”. Com pouco a perder, e cheio de ira e abatimento, Mack viaja ao velho casebre. O que segue é um encontro alucinante entre o protagonista e as três pessoas da Trindade, personificações distintas e interdependentes.
A representação dessas entidades vai chocar os leitores mais conservadores, e alguns não conseguirão engolir a visão extrema e perturbadora de Young. Aliás, não são poucos os críticos cristãos que abominam o livro, por acharem que o texto ridiculariza a majestade e a soberania de Deus. Rejeitam sua metáfora “desrespeitosa” e apontam distorções, erros de interpretação bíblica, simplificações imperdoáveis e até sacrilégio.
O que a maioria dos críticos parecem ignorar é que o livro é essencialmente sobre teodiceia, uma justificação do amor e da justiça de Deus diante do mal e da tragédia humana. Parecem não perceber que – para o mortal que já sofreu grandes traumas e perdas – o lento caminho de volta à sanidade espiritual passa necessariamente pela epifania da compreensão das profundezas do amor de Deus. Não entendem que o pecado de Young é apenas o da licença poética – e que ele escreve com a legitimidade que só o sofrimento pode conferir.
Quem passou pelo vale da sombra da morte não critica os exageros de imaginação expressos em A cabana. Afinal, a revelação da Bíblia não ruirá sob os devaneios de Young, mas certamente há sofredores miseráveis que perecerão a morte eterna sem darem conta do amor de Deus. Este livro é para eles, antes que abandonem tudo.
por Mark Carpenter
A realidade é que o autor não tem nem talento nem disposição para competir com os melhores romancistas. No entanto, a verdade que ele deseja revelar é mais importante que qualquer escolha de forma literária. Young parece perceber as limitações da sua ficção, e mesmo assim arrisca tudo em favor do insight que deseja compatilhar com seus leitores. Sua autopercepção torna palatável o que normalmente seria o defeito mais irritante da ficção cristã.
O resultado? Milhões de leitores estão abraçando a proposta para embarcar na narrativa de A cabana – e é bom saber que entre eles estão teólogos e eruditos. Até Eugene Peterson endossou a obra; no seu entender, o livro poderá fazer por nossa geração o mesmo que O peregrino, de Bunyan, fez para a sua. A comparação entre as duas obras é perfeita, pois O peregrino também é pouco mais que uma analogia a serviço de uma mensagem, com sérias limitações literárias. No entanto, é de se acreditar que a exposição inovadora das verdades que impulsionam essas obras compensam as suas falhas.
A cabana é sobre Mack, um homem cuja pequena filha é assassinada. Sua consequente decepção com Deus o leva à beira da loucura, e um dia ele recebe um bilhete enigmático que o convida a voltar à cabana onde ocorreu o crime. O bilhete é assinado por “Papai”. Com pouco a perder, e cheio de ira e abatimento, Mack viaja ao velho casebre. O que segue é um encontro alucinante entre o protagonista e as três pessoas da Trindade, personificações distintas e interdependentes.
A representação dessas entidades vai chocar os leitores mais conservadores, e alguns não conseguirão engolir a visão extrema e perturbadora de Young. Aliás, não são poucos os críticos cristãos que abominam o livro, por acharem que o texto ridiculariza a majestade e a soberania de Deus. Rejeitam sua metáfora “desrespeitosa” e apontam distorções, erros de interpretação bíblica, simplificações imperdoáveis e até sacrilégio.
O que a maioria dos críticos parecem ignorar é que o livro é essencialmente sobre teodiceia, uma justificação do amor e da justiça de Deus diante do mal e da tragédia humana. Parecem não perceber que – para o mortal que já sofreu grandes traumas e perdas – o lento caminho de volta à sanidade espiritual passa necessariamente pela epifania da compreensão das profundezas do amor de Deus. Não entendem que o pecado de Young é apenas o da licença poética – e que ele escreve com a legitimidade que só o sofrimento pode conferir.
Quem passou pelo vale da sombra da morte não critica os exageros de imaginação expressos em A cabana. Afinal, a revelação da Bíblia não ruirá sob os devaneios de Young, mas certamente há sofredores miseráveis que perecerão a morte eterna sem darem conta do amor de Deus. Este livro é para eles, antes que abandonem tudo.
por Mark Carpenter
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