O tema Ecologia tem sido cada vez mais presente na agenda dos pensadores e dos formadores de opinião dos nossos tempos. Ecologia, num primeiro momento, significa “o estudo do equilíbrio das coisas vivas na natureza”. No entanto, temos visto com o passar do tempo que a palavra agregou outros sentidos, vindo a ser entendida como o termo que designa o problema da destruição que o homem inferiu sobre a natureza.
Luc Ferry, um escritor francês e professor de Filosofia, lembra que para uns ecologia é uma ciência, enquanto para outros é uma política. “A ecologia, politicamente nascida nos anos 60, toma hoje o lugar dos movimentos contestadores que marcaram a História do final do século XX”.
Segundo Ferry, existem três visões bem distintas da Ecologia nos países onde ela se estruturou. A primeira é uma visão humanista, onde através da proteção do meio ambiente é o homem que se procura salvaguardar. Nessa visão, o meio ambiente em si não tem um valor intrínseco. A visão humanista da ecologia, antropocentrista, diz que a natureza tem papel indireto – o centro é o homem. O meio ambiente é nossa periferia, o que engloba, envolve o homem.
A segunda visão baseia-se no princípio de que não se deve apenas militar em defesa dos direitos do homem. Deve-se visar também à ampliação do bem-estar de tudo o que se encontra na Terra. Assim, atribui-se um valor pelo menos moral a certos seres não humanos e aspira-se um bem-estar de todas as espécies.
A terceira visão sobre Ecologia verbaliza a reivindicação de um “direito das árvores e das pedras”, ou seja, da natureza como tal. Os princípios dessa Ecologia mais radical passam pela revisão do conceito de humanismo moderno. Não se trata mais de considerar o homem como centro do mundo, e sim o cosmos, que, se necessário, deve ser protegido do próprio homem. O ecossistema – ou biosfera – passa a adquirir valor próprio, superior ao da espécie humana.
A visão cristã contrasta com as três acima citadas. Ela parte do princípio de que toda a Criação foi gerada por um Criador. Logo no primeiro versículo da Bíblia, uma diferenciação é posta de maneira clara: “No princípio criou Deus os céus e a terra” (Gênesis 1:1) . Há um Criador, há uma criação. Isso nega todo materialismo que diz não haver um Criador, e nega todo panteísmo que eleva a criação ao nível de Deus.
O Deus Criador cria todas as coisas e coroa sua esplendorosa obra com a criação do ser humano à sua imagem e semelhança. E dá a este ser um mandato, conhecido na teologia como mandato cultural:
"Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra. Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra." (Gênesis 1:26-28)
Para Peskette e Ramachandra, porque os seres humanos são criados à imagem de Deus, são chamados a governar a Terra como vice-regentes de Deus. Sabemos que muitos têm compreendido mal o sentido bíblico da co-regência ou da mordomia, pois essa tarefa não nos permite explorar e subjugar ilimitadamente a natureza.
A humanidade recebe de Deus a ordem de agir como seu representante sobre a terra e suas criaturas. Assim, deve tratar a Criação da mesma maneira que Deus o faria. O jardim não deveria ser possuído pelo ser humano, mas protegido. A visão bíblica implica que não somos nem proprietários nem hóspedes, mas guardadores. Esse é o sentido bíblico para o mandato cultural. Como nos lembram Peskette e Ramachandra, “a Criação existe não para servir a interesses humanos, mas para refletir a glória de Deus (Jó 12:10; Salmos 148:7-10,14)”.
As primeiras evidências de uma preocupação ecológica mundial, embora não haja nenhuma menção de maneira explícita, surgiu em 1945, nas Organizações das Nações Unidas. Na época, propunha-se como tarefa fundamental a segurança mundial. Em 1972, na esteira da ONU, o Clube de Roma lançou um alarme ecológico sobre o estado doentio do planeta Terra. Após estudos e debates esse grupo identificou como a principal causa o “padrão de desenvolvimento consumista, predatório e perdulário”. Desde então surgiu, nos meios que estudam a questão ecológica, o termo “desenvolvimento sustentado”. A conclusão que chegaram é que a questão ecológica transcende o cuidado com a Criação, sendo necessário um novo pacto social de responsabilidade entre todos os humanos, o que implicaria em uma revisão das estruturas mais cristalizadas da sociedade mundial. Um documento foi escrito e chamado de Carta da Terra (A Carta da Terra é um documento que foi trabalhado por mais de 46 países e cerca de 100 mil pessoas. Depois de finalizado em março de 2000 aguarda o endosso da Organização das Nações Unidas. Pretende-se que após aprovada pela ONU ela tenha o mesmo valor que a Carta dos Direitos Humanos). Ela enumera pelo menos quatro pontos básicos que precisariam ser revistos por esse pacto: (1) respeito e cuidado da comunidade da vida; (2) integridade da vida; (3) justiça social e econômica; (4) democracia, não-violência e paz. Ou seja, a questão da Ecologia passa necessariamente por um espectro muito mais amplo, envolvendo questões sociais, políticas e econômicas ao redor do planeta.
Infelizmente, o que se percebe é que a consciência ambiental não tem sido ainda alvo das preocupações da igreja. Muito embora o Conselho Mundial das Igrejas (CMI) tenha alertado para o fato de que a busca por justiça econômica, por paz social e pela “integridade da Criação” vem de mãos dadas, muito pouco tem se produzido e debatido no âmbito dos concílios das nossas igrejas sobre a questão ecológica.
Precisamos de uma Teologia que traga respostas para as questões emergentes de nossa época. Do contrário, todo nosso esforço evangelístico e missionário será vazio e sem conseqüências maiores para um mundo que se desfaz a cada dia pelas mãos de criaturas que ainda não compreenderam qual o seu papel como guardadores do jardim.
“Missão Integral: Ecologia e Sociedade”
retirado de Cristianismo Criativo
Luc Ferry, um escritor francês e professor de Filosofia, lembra que para uns ecologia é uma ciência, enquanto para outros é uma política. “A ecologia, politicamente nascida nos anos 60, toma hoje o lugar dos movimentos contestadores que marcaram a História do final do século XX”.
Segundo Ferry, existem três visões bem distintas da Ecologia nos países onde ela se estruturou. A primeira é uma visão humanista, onde através da proteção do meio ambiente é o homem que se procura salvaguardar. Nessa visão, o meio ambiente em si não tem um valor intrínseco. A visão humanista da ecologia, antropocentrista, diz que a natureza tem papel indireto – o centro é o homem. O meio ambiente é nossa periferia, o que engloba, envolve o homem.
A segunda visão baseia-se no princípio de que não se deve apenas militar em defesa dos direitos do homem. Deve-se visar também à ampliação do bem-estar de tudo o que se encontra na Terra. Assim, atribui-se um valor pelo menos moral a certos seres não humanos e aspira-se um bem-estar de todas as espécies.
A terceira visão sobre Ecologia verbaliza a reivindicação de um “direito das árvores e das pedras”, ou seja, da natureza como tal. Os princípios dessa Ecologia mais radical passam pela revisão do conceito de humanismo moderno. Não se trata mais de considerar o homem como centro do mundo, e sim o cosmos, que, se necessário, deve ser protegido do próprio homem. O ecossistema – ou biosfera – passa a adquirir valor próprio, superior ao da espécie humana.
A visão cristã contrasta com as três acima citadas. Ela parte do princípio de que toda a Criação foi gerada por um Criador. Logo no primeiro versículo da Bíblia, uma diferenciação é posta de maneira clara: “No princípio criou Deus os céus e a terra” (Gênesis 1:1) . Há um Criador, há uma criação. Isso nega todo materialismo que diz não haver um Criador, e nega todo panteísmo que eleva a criação ao nível de Deus.
O Deus Criador cria todas as coisas e coroa sua esplendorosa obra com a criação do ser humano à sua imagem e semelhança. E dá a este ser um mandato, conhecido na teologia como mandato cultural:
"Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra. Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra." (Gênesis 1:26-28)
Para Peskette e Ramachandra, porque os seres humanos são criados à imagem de Deus, são chamados a governar a Terra como vice-regentes de Deus. Sabemos que muitos têm compreendido mal o sentido bíblico da co-regência ou da mordomia, pois essa tarefa não nos permite explorar e subjugar ilimitadamente a natureza.
A humanidade recebe de Deus a ordem de agir como seu representante sobre a terra e suas criaturas. Assim, deve tratar a Criação da mesma maneira que Deus o faria. O jardim não deveria ser possuído pelo ser humano, mas protegido. A visão bíblica implica que não somos nem proprietários nem hóspedes, mas guardadores. Esse é o sentido bíblico para o mandato cultural. Como nos lembram Peskette e Ramachandra, “a Criação existe não para servir a interesses humanos, mas para refletir a glória de Deus (Jó 12:10; Salmos 148:7-10,14)”.
As primeiras evidências de uma preocupação ecológica mundial, embora não haja nenhuma menção de maneira explícita, surgiu em 1945, nas Organizações das Nações Unidas. Na época, propunha-se como tarefa fundamental a segurança mundial. Em 1972, na esteira da ONU, o Clube de Roma lançou um alarme ecológico sobre o estado doentio do planeta Terra. Após estudos e debates esse grupo identificou como a principal causa o “padrão de desenvolvimento consumista, predatório e perdulário”. Desde então surgiu, nos meios que estudam a questão ecológica, o termo “desenvolvimento sustentado”. A conclusão que chegaram é que a questão ecológica transcende o cuidado com a Criação, sendo necessário um novo pacto social de responsabilidade entre todos os humanos, o que implicaria em uma revisão das estruturas mais cristalizadas da sociedade mundial. Um documento foi escrito e chamado de Carta da Terra (A Carta da Terra é um documento que foi trabalhado por mais de 46 países e cerca de 100 mil pessoas. Depois de finalizado em março de 2000 aguarda o endosso da Organização das Nações Unidas. Pretende-se que após aprovada pela ONU ela tenha o mesmo valor que a Carta dos Direitos Humanos). Ela enumera pelo menos quatro pontos básicos que precisariam ser revistos por esse pacto: (1) respeito e cuidado da comunidade da vida; (2) integridade da vida; (3) justiça social e econômica; (4) democracia, não-violência e paz. Ou seja, a questão da Ecologia passa necessariamente por um espectro muito mais amplo, envolvendo questões sociais, políticas e econômicas ao redor do planeta.
Infelizmente, o que se percebe é que a consciência ambiental não tem sido ainda alvo das preocupações da igreja. Muito embora o Conselho Mundial das Igrejas (CMI) tenha alertado para o fato de que a busca por justiça econômica, por paz social e pela “integridade da Criação” vem de mãos dadas, muito pouco tem se produzido e debatido no âmbito dos concílios das nossas igrejas sobre a questão ecológica.
Precisamos de uma Teologia que traga respostas para as questões emergentes de nossa época. Do contrário, todo nosso esforço evangelístico e missionário será vazio e sem conseqüências maiores para um mundo que se desfaz a cada dia pelas mãos de criaturas que ainda não compreenderam qual o seu papel como guardadores do jardim.
“Missão Integral: Ecologia e Sociedade”
retirado de Cristianismo Criativo
Um comentário:
Preciso comentar:
A Carta da Terra é um documento criado durante a reunião da ECO 92 por diversas ONGs!
Ela eleva a visão da proteção aos direitos ambientais sob uma ótica popular diferente da visão estatal ou privada.
Curso de RI na BA é cultura! =)
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